quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Teia



“Todo crime é vulgar, assim como
toda vulgaridade é criminosa.”

Oscar Wilde

Esta carta foi entregue à polícia à data de 12 de no­vembro de 2008, o que causou completa estranheza e comoção aos investigadores locais. Primeiro, pela frie­za com que se suce­deram os fatos a seguir. Se­gundo, pelos prováveis distúrbios psicológicos que possam acometer o autor, visto que a carta foi entre­gue acom­panhada de um presente de natal antecipa­do, um pre­sente que causaria, estou certo, até mesmo ao pior dos homens a pior das repulsas. É importante que se saiba também que o remetente ainda permanece foragido, ao pas­so que a destinatária, após a entrega da carta, en­contra-se desaparecida. Seguimos portanto com a mis­siva originalmen­te trans­posta, sem esquecermos, por fim, que a mesma teve o seu nome alterado por segre­do de justiça*, e que respondia pela profissão de psi­cóloga, num hospital público de Minas Gerais.

20 de agosto de 2009
O Editor

Querida Patrícia*,

Escrevo-lhe neste dia tão belo, de um sol tão ale­gre, en­quanto os pássaros perfazem a minha janela com danças e pi­ruetas, para relatar algo que em muito contrasta com este ce­nário. Confesso, antes de mais nada, que o dia talvez tenha percebido a minha aflição, e que para me dar uma mãozinha, possa estar que­rendo me deter em sua alegria, coisa que não me valeu de muito, pois para mim a vida está agora mais que cinzenta.

Se estiver lendo esta carta, certamente já terá rece­bido o meu pedido de que só após a leitura desejo que abra o pre­sente que deixei em suas mãos, como prova de meu carinho e de minha lealdade também. Cabe que eu a lembre de que todo o relato a seguir só tenha sido possível graças à boa vontade de alguns maus homens que andam por este planeta a roer as nossas carnes, homens que se aventuram em busca de crimes e delitos, e que particularmente neste sábado te­nham tristemente topado com alguém cujo propósito iria ul­trapassar as suas expectativas em relação às vítimas de que andavam acostumados.

Vale também lembrar de que o estopim de tudo isso se deve ao fato de nesta inesquecível e trágica madrugada de sábado, nos decidimos por finalmente estreitar as nossas rela­ções, o que estaria amplamente proibido segundo as normas ou ética médicas, de que pacientes e psicoterapeutas jamais haveriam de se envolver. E com exceção de toda aquela noi­te, até a constatação do crime que relatarei, quero que saiba que tudo correu além de minhas expectativas, e que não fos­se pelo desastrado furto, estaríamos, estou certo, ainda em clima de amor, e não como cá estou, em clima de enterro.

Na noite do fato, daquele terrível fato e razão desta carta, em que meu veí­culo fora brutalmente ar­rombado, como você sabe, e em que algum infeliz melian­te, mesmo que não obten­do sucesso em seu propósito, acabou por da­nificar tam­bém o meu orgulho, quero que se lembre de minhas palavras: “De que al­guém deveria pagar por aquilo; de que nunca me dei com a derrota, e que nos pró­ximos dias eu acharia de vin­gar-me”. Lembrá-la tam­bém de que ficamos acertados os dois, de que de algum modo eu haveria de recuperar-me deste senti­mento tão arra­sador, a impotência, e como suspeitei de que você quisesse duvidar de minha promessa, algo que no mo­mento já esteja um tan­to fora de cogitação, fui em busca de sua execução, num modo um tanto ele­gante de prová-la que nunca minto.

Eu não estava enganado, Patrícia, quando lhe disse que este ato fora para mim muito maior que para mui­tos outros, pois todo ato (creio) é de algum modo sempre justificado – o que permite que sejam também drasticamente invasores e hostis. Que o meliante tem certamente os seus princípios norteadores, que desembocam no furto, bem como eu tam­bém o tive – e nisso estive apenas na prática de meus direitos. Ao contrário do que pensam os religiosos, intuo cada vez mais que o destino seja uma su­cessão de princípios que adquirimos ao longo da vida, e que permanece em nosso inconsciente, a moldar atos como estes.

Naquele domingo acordei por volta das duas da tar­de, olhei para o teto de meu quarto e por alguns instan­tes, ainda sono­lentos, tentei crer que tudo não tinha passado de um terrível pesadelo. Levantei-me da cama querendo, na verdade, dese­jando que tudo fosse fruto de algumas horas de sono, acompanhados pela má digestão de minha janta, de que o meu dia seguiria no tom em que estava, sem interrupções inoportu­nas, com meus prazeres habituais. Portan­to, criando coragem e espre­mendo minha memória para que a verdade de lá não ousasse sair, dirigi-me ao carro para constatar, tristemente, que não era o caso. Abri o porta-malas, algo que não fizera no instante do crime, percebendo que me faltavam alguns obje­tos de valor, que outras peças insubstituíveis haviam sido le­vadas sem ao menos uma despedida, e que em al­gum lugar desta cidade vagava o autor deste crime, ileso, no que parali­sei-me por com­pleto. Eu me lembro que naquele domingo meus familiares esta­vam todos reunidos em minha casa, que o dia (que prometia a todos muita diversão) não poderia con­tar com a minha; que meus sobrinhos e primos nem se aven­turavam a qualquer proximidade, pois pareciam perceber-me em uma com­pleta desolação. Então, a revolta se apossou de mim, como nunca. O que ve­nho relatar agora a você é algo de que já me envergonho, mas que por outro lado (devo também confessar) trouxe-me a paz novamente, e on­tem mesmo o confirmei pela boa noite de sono que tive.

Após a minha paralisação, que foi interrompida por minha mãe que me invocava ao almoço, pensei que dali a alguns mi­nutos estaria estabelecido, e que o me­lhor a se fazer era for­rar o estômago já maltratado pela noite anterior, e se­guir com minha vida em diante. Mas durante a refeição, Patrícia, vendo eu que a harmonia familiar e toda aquela felicidade poderia pouco a pouco se esvair não somente de meu lar mas de to­dos os lares deste planeta por conta de atos tão vis e desu­manos, algo inumano pareceu tomar conta de mim, no que me levantei, sem que ninguém me entendesse, correndo à cozinha de minha casa, em busca de algum objeto.

Como já disse, todo ato busca por sua justificativa. Estes atos, sempre exatos (pois não pode haver um ato inexato) re­querem de seus autores uma lógica muito sutil e verdadeira, e que naquele instante em que buscava por algo que pudesse representar a minha vontade, iam se clareando cada vez mais em meu ser. Intuí que seria impossível sanar aquela dívida com o verdadeiro autor do fato, que naquele momento já es­taria bem longe e sorridente, mas que na minha lógica eu po­deria de algum modo vingar-me com justiça, mesmo que nun­ca topasse com o dito. Pensei que há uma teia (para muitos invisível) de marginais e assaltan­tes, de agressores e fanfar­reiros, de criminosos de todos os ti­pos e lugares, que pode­riam pagar pela ofensa que me ti­nham feito, e que descorti­nar apenas um deles, era como descortinar a todos. Na verda­de, que uma vingança bem exe­cutada contra apenas uma unidade desta teia infinita, era uma vingança contra a desmo­ralização daqueles a quem carinhosamente compartilhavam de minha mesa, e que acaso não estivesse enganado, que o lindo dia estaria a meu favor, contra as trevas da noite ante­rior.

Entrei em meu carro por volta das seis da noite de domin­go, com um objeto que agora se encontra no fundo de um rio escuro, e saí à caça, furioso. Enquanto seguia pelas ruas, achei de festejar propriamente o ato de coragem, colocando em meu rádio, em homenagem à vítima, algumas canções de sucesso in­ternacional. Não demorei a encontrar o ninho que cuidadosamente chega­ria, repleto de minhocas, para alimen­tá-los. Avistei, bem ao longe, numa 'boca de fumo' alguém que me pu­desse fazer este favor, ou seja, de me devo­lver as noi­tes tranquilas, que minha alma tanto almejava, agora que as perde­ra. Após a aproximação, que meticulosa­mente arqui­tetei, desci o vidro do carro e perguntei-lhe por alguns objetos de segunda mão, se por um acaso não es­taria disposto a ven­der-me artefatos automotivos por preços camaradas, no que me respondeu, com aquele linguajar dos mais pobres, que não muito longe dali haveria de obtê-los. Então, pensei, en­quanto maleficamente sorria, que para a ruína desta teia infi­nita, que são as teias dos que agem de má-fé; eu deveria re­compor-me silenciosamente a seu pedido, e segui-lo até o tal lu­gar. Após a chegada, numa viela que não me arrisco a des­crever, topei com o retorno de uma figura desprezível e orgu­lhosa, e detive-me com ela sobre al­guns modelos tecnológi­cos, quase não me segurando de ódio, mas com um firme sor­riso.

Não demorou muito Patrícia que o pobre retornasse muitas e muitas vezes, cada vez com um modelo diferente, com to­dos estes aparatos modernos que têm preenchido o sentido de nossa existência, o que me fez pensar em quantos mais haveria dentro daquele barraco imundo e quantos destinos como o meu, quantos suaves domingos não haviam se con­vertido em pequenos pesadelos. Com alguns frutos de seu cri­me, o que me fez pensar que para ele aquilo fosse apenas fruto de seu trabalho, despejou-me uns quantos objetos sem o menor carinho, algo que me fez ajustar os cintos, para não retirar-lhe de imediato o vazio do olhar e seu português arcai­co dos lábios. O que ele não sabia, e que agora jamais saberá, é que todo trabalho age de maneira similar no destino dos ho­mens. Que todo trabalho, de alguma maneira, é res­ponsável por alterar o destino do outro, os princípios dos outros e consequentemente as noites tranquilas que cada ho­mem recebe dos céus. E que se para uma barata o dedetizador acaba por ser o inferno, achei que para ele eu também o podia ser, e muito justamente.

Com a frieza que você bem conhece, acertei com a es­colha de alguns pro­dutos um tanto danificados pela vio­lência de suas ferramentas, convidei-o a entrar em meu carro, com um tom que ele não pôde recusar, dizendo que o pagaria muito mais pelo que aquilo valia, mas que o dinheiro se encontrava em posse dos desprezíveis ban­queiros. Disse-lhe que em algum lugar daquela nojenta cidade acharíamos de topar com um caixa eletrônico, e pisei fundo em meu acelerador, transportando agora a minha presa ao seu cruel destino. Portanto, após entrar em meu carro, que era vigiado somente por dois vicia­dos de um beco que na manhã seguinte mal saberiam os seus próprios nomes, saí pela rodovia insessante, sali­vando, como só as cobras salivam.

Aquela rodovia, de tão fria e indiferente, seria o palco para minha justiça. Eu, que até então respondia pelo bom nome, estaria dali há alguns instantes imerso no hall daqueles que cometem o mais grave delito que possa ser cometido por um homem. Mas a sensação (ao contrário do que você pensará) não era a do remorso, mas a de puro alívio, o que me fez en­tretê-lo com boas piadas, todas relacionadas ao que ele pode­ria compre­ender, como as de cunho criminoso. Ele me apre­sentava triunfante os locais de desova, as estratégias unilate­rais de sua patética organização, os pontos em que havia a facilitação do cidadão comum, a macro-estrutura funcional e burocrática das ruas, uma distribuição de domingos perdidos, a verdadeira fábrica de sentimentos infe­lizes e atrozes. Eu o acariciava com certas e estratégicas palavras, arrancando como a um rato de laboratório, tudo o que bem me convinha, e nisso o via cada vez mais morto a meu lado.

Enquanto retirava de minha presa a justificativa para o meu abate, ele seguia apontando-me os seus segredos, con­fiado que estava em minha fragilidade e temor, concordando risonho com cada frase por mim pronunciada, enquanto ía­mos pela estrada agora escura, margeadas por amplas serras e mato – palco perfeito para minha mise en scène. Lembro-me de que sorria ainda mais quando lhe dizia que algum idio­ta estava nos financiando e ao nosso prazer, tampouco fazen­do idéia de que a todo momento seus dentes enegrecidos e sua vestimenta esportiva sugeriam-me, enquanto ríamos, o como ficariam ainda mais belas e suaves no quente tom rubro da­quele líquido que somente por mais poucos minutos circu­laria em seus pul­sos.

Nesta altura, perguntei-lhe se era ele autor daqueles furtos, e como o bem fazem os retóricos e o diabo, lançando-lhe um olhar admirado, como se aquilo pertencesse aos mais louvá­veis e corajosos dos atos, no que me respondia assertivamen­te que muitos daqueles objetos, sim, vinham de sua habilidade com as chaves; de sua habilidade com os alarmes.

Entrei numa marginal, tremendo, informei-lhe que logo a frente teríamos um banco vinte e quatro horas para o saque de sua grana, e que parássemos em algum ponto dali bem ra­pidamente, para minhas necessidades, que estavam a ponto de estourar. Ele, perguntando-me se era de meu agrado, sugeriu-me que fumássemos 'unzinho' ali mesmo de modo a não perdermos a viagem, e que ali (numa clareira) es­taria o lugar perfeito para celar a nova parceria que entre nós surgia. Pedi-lhe num tom ameno que o fôsse enrolando, enquanto eu molharia algum formigueiro, no que já sentado e morrendo às gargalhadas, a nada desconfiava. Eu sempre acreditei que fosse uma de minhas maiores competências a arte do con­vencimento, mas naquele polha essa minha suspeição estava indubitavelmente consolida­da, tamanha era a sua camaradagem comigo, logo comigo, que o devolveria ao julgamento de Alá e às portas do inferno.

A partir desse momento não entrarei em detalhes, embora pense que você, Patrícia, os adoraria. A composição dos fatos (embora eu os almejasse) foram para mim tão fortes, que há dois dias venho tentando estirpá-los de mim, e que é bom que para que isso aconteça, eu não os invoque além do necessário. Portanto, somente para que entenda, minha adorá­vel psicóloga, dizer-lhe rapidamente de como sucedeu o fim daquela unidade de uma teia imensa de criminosos, e de como se fez a justiça e minhas tranquilas noites de sono, sem o aparato artificioso de pastilhas de Veronal.

Após a chuva que recebeu o formigueiro, que do que se passava nada entendeu, subi o barranco topando-me com aquela figura já em transe pela quantidade de tragos, com den­tes colorados como que por açúcar mascavo, oferecendo-me uma ponta, que aceitei com educação. Em minha cintura trazia uma faca dentada, daquelas baratas em que cortamos o pão pela manhã, no que pensei, na verdade, no que me lembrei de um crime muito similar que há alguns anos já o te­ria co­metido.

Este crime antigo, para que você se inteire, havia-me ocor­rido no natal de 2003. Numa fazenda do norte de Minas, um ex-sogro levara-me a escolher um animal para o abate, e que o pobre seria (por tradição) morto na noite da festa, com um belo punhal que me mostrou instantes antes. Pedi-lhe, um tanto encabulado, que eu o matasse, pois seria uma experiên­cia iné­dita para um rapaz que crescera nas cidades, no que me autorizou com um olhar sorridente, mas um sorriso ruim. Não preciso dizer que obtive sucesso no assassinato do pobre leitão, e que a maior descoberta foi perceber que ao contrário do que nos ensinam os filmes, não foi preciso nenhuma força, ou quase qualquer esforço físico para afundar-lhe o punhal pelo coração, tama­nha é a fragilidade da pele. Como só quem matou para saber disso, lhe digo que o contrário também não aconteceu a nossa pobre unidade da teia, a este pobre paspalho, que narrava agora a gargalhadas o seu último furto, suge­rido por mim.

Era como se eu quisesse ter a certeza de que o endereço certo daquela figura seria o inferno e não o céu de Alá, o que pude ter confirmado, a cada palavra que pronunciava, que não estava diante de um homem santo, mas de um delin­quente que merecia partir dessa, para pior. Pedi-lhe um ins­tante de silêncio. E lhe perguntei, pausadamente, se por um acaso não temia que alguém, em algum dia, se vingasse por isso. No que me respondeu que os homens andavam muito covardes, pois foram deixando de resolver ao longo dos tem­pos a seus próprios problemas; e que encorajados à entrega desta competên­cia ao frágil aparato do Estado oficial – torna­ram-se lesmas nas ruas. Claro que tudo isso me dizia bem a sua maneira, bem como eles constumam entender no meio em que vivem, mas o seu sentido fi­cou-me tão claro, que não adiei mais minha vontade, e cedendo ao momento, rasguei-lhe rapida e prazerosamente a garganta. Enquanto seus olhos me miravam abismados, eu lhe di­zia que assim ele morreria, para sanar uma dívida que tinha de ser sanada, senão pelo ver­dadeiro autor, mas pelo primeiro da mesma estirpe que me cruzasse o cami­nho. Dito num modo que ele bem enten­deu antes de partir, proferi sorrindo que desse um olá ao de­mônio, e que se quisesse poderia também dizê-lo que eu o aguardava um dia para uma cerveja, evidente, para bons diá­logos, que sei que teríamos.

Limpei a faca com sua camisa. Arranquei-lhe com cuidado um dos dedos de sua mão, que é o presente que lhe entrego agora, Patrícia, para que não me lances mais o olhar de sua dúvida. Espero que não se ofenda com tamanho disparate de meus atos, com tamanho disparate também de meu cruel mas prazeroso destino, e que entenda que o que fiz foi ape­nas restau­rar um estado de meu espírito que se encontrava agora transmutado pela vio­lência de alguns. E mais uma coi­sa: que agora você guarda um segredo tão especial e assusta­dor de minha conduta, que sou capaz de pedí-la, de implorá-la que não me denuncie, por que o crime, segundo fontes jor­nalísticas, já foi atribuído a dívidas com o tráfico, o que me inocenta para todo o sempre.

Desde já agradeço a sua atenção e peço que não fique com este artefato macabro, que o lançe ao vaso ou a um cão de rua faminto. Sugiro que não o enterre, pois o seu proprietário já teve o seu devido enterro, que por mim mesmo fora confe­rido, e que esteve quase vazio, com uma família que também esteve aliviada, segundo pude constatar ao conversar com a pobre mãe. Que Deus a tenha, porque ao diabo o presente já está mais que entregue.

Contagem, 11 de novembro de 2008
Helder Fernandes

Pós-escrito: O crime, que chocou a muitos, parece agora encontrar força pela internet. Alguns andam propagando a carta como um manifesto à sociedade, que foram espalhados, soube-se, até em alguns outros idiomas, visto que o fenômeno da vio­lência pareça estar presente também em porções mais diversas da cultura humana. Alguns querem atribuir à carta um pe­dido de revolta silenciosa que deve acontecer, não em tom de pedido mas de uma espécie de profecia, que inevitavelmente não demora a estampar as páginas de jornais de todo o globo. Segundo relatos de uma matéria publicada recentemente no renomado jornal americano, o Washington Post, a carta tem feito com que os índices de criminalidade recuem, e o que é pior, que alguns já nem aguardam mais que algo de ruim lhes aconteça, saindo à caça como uma espécie de diversão, res­peitando sempre, evidente, a lógica da teia infinita, a que moralmente estão submetidos. Na Alemanha se soube que o ato está migrando para os políticos, e que em breve, segundo a previsão dos mais otimistas, o mundo correrá livre desta teia, e até mesmo livre de policiais, visto que todo cidadão comum transformou-se em guardião de sua política interna e externa, de sua vizinhança, de sua família e de si próprio, como era o esperado.

Outra questão que tem sido colocada pela imprensa nacio­nal e internacional é que foragido e desaparecida vivem cal­mamente na Inglaterra, local onde a criminalidade vem se re­duzindo cada vez mais, chegando quase à nulidade, e que vi­vem felizes da vida já com duas crianças, e uma terceira à caminho. Segundo o biógrafo britânico Jon Halliday, a psicóloga ministra palestras de auto-ajuda agora a mulheres que foram ao longo dos anos desencorajadas ao enfrente de marginais e trombadinhas, e que atrás do palco em que se apresenta, há um pequeno artefato, uma caixa, cujo conteúdo só será revelado após a morte do casal. Estipula-se de que há nele ainda o dedo do primeiro crucificado da história, que morreu em prol da nova teoria de libertação moderna, a teoria da Teia Infinita, capaz de devolver a tão almejada paz ao mundo e a todos.

No Rio de Janeiro governos e população querem a retirada de algumas estátuas da cidade, para a colocação deste pobre personagem da história, que morreu sem saber o porquê, em­bora intuísse em seus últimos sopros que deveria estar mor­rendo por algo que fosse mesmo justo, visto que em vida nunca prestou.

02 de novembro de 2009
O Editor

Para Patrícia Paiva

4 comentários:

NADA disse...

Filho da putinha vc!

Bella Álvares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bella Álvares disse...
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Bella Álvares disse...
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