domingo, 14 de setembro de 2008

Entre Diálogos



“Eu durante minha vida toda busquei pessoas que falassem assim pra mim, e adoro ouvir críticas destrutivas. Quem não critica e não ouve críticas é um fraco. É o tipo de pessoa que tem medo. Eu não tenho medo de ser odiada, falada, quem tem medo disso é gente covarde.”
.........................................................................................................................Anônimo


INTRODUÇÃO

Antes de mais nada (é tão importante que se fale disso neste início) este ensaio é um brinquedo Leitor. Um de meus brinquedos intelectuais prediletos, diga-se. Mas um sério brinquedo também e perdoe-me o paradoxo. Pois se bem observar, verá (com o magnífico olhar que conheço) um brinquedo que pretenda (bem a meu modo) compreender o mistério de que são formados os diálogos, uma vez que o recheio de nossas atitudes sejam as conversas, sem, no entanto, crer que chegarei a resposta definitiva, o que está longe de qualquer filósofo pretendê-lo, mas chegar a uma resposta, a uma verdade provisória, com o gostinho de nosso tempo, e que sirva para nossas vidas. O que não me diminui, ao contrário, torna-me, e a este texto, isentos de um julgamento pouco sublime. Um brinquedo que, como verá, manejo (ou irei manejar daqui por diante) também com muita honestidade, sabendo que seja impossível circular a verdade que não por meio dela, mas com muito prazer também, pois não posso me imaginar (e isso aprendi com um mestre) a escrever algo cujo fim não seja o de obter a felicidade. Que a obtenhamos juntos, portanto.

Quando nestas linhas encontrar os traços de minha personalidade, a enxergar-me inteiramente nu e por completo, visto que não possa (não há escritor que possa) esconder-me em meus preconceitos e erros; quando encontrar-me naquela prisão comum de seus raciocínios, nas inevitáveis grades a que esbarram todos os escritos (as grades do seu julgamento), debruçado que estará sobre meu texto e consequentemente sobre o que penso; quando eu, ao fim de tudo, estiver em suas mãos, como alguém que no fim da vida já não possa, ao menos, defender-se das acusações feitas contra si mesmo, espero encontrá-lo do outro lado com aquela resistência natural (e um irônico sorriso) próprio dos mais capazes, mas saudosamente orgulhoso por isso acontecer; ou orgulhoso pela sutil constatação de minha ingenuidade, que vê-se por meio da simples variação de vinte e três letras do alfabeto, supor estar entendendo alguma coisa.

Porque (se ler-me com a atenção devida) entenderá que pouco me interessa saber se gostou do que escrevi, mas se gostou do que leu, e nisso há um brusca diferença. Que nos divirtamos, dessa forma, Leitor, antes de qualquer coisa, pois, o que nos impedirá de rindo dizer coisas sérias, como bem disse Horácio. Não será demorada a constatação de que este não é um brinquedo comum e de fácil e rápida assimilação. Pelo contrário, um brinquedo daqueles que (quando no natal) começam por ser observados por todas as crianças de um modo lento e duvidoso, respeitando primeiro a aparência do embrulho (um tanto ridículo e de mau gosto) mas que aos poucos venha a se converter numa bela diversão, própria das grandes surpresas, tão próprio dos grandes presentes.

Como o que está em questão acaba por ser a matéria de que somos formados, ou seja, a mais pura vontade de falar, assim, de existirmos, e claro, infelizmente convertida, como bem sabemos convertê-la, às vezes, em ríspidos diálogos, verá você que, para explicar-lhe em bom tom o que de minha vida aprendi até os meus bem poucos trinta anos, preferi em minhas conversas sempre o caminho da leveza, tão comum aos mais sábios — e não o caminho do peso das considerações, tão própria dos que se propõem intimidar, e não convencer. Pois acredito que raramente triunfamos do mal que atacamos de frente; devendo, assim, ao dialogar com um outro ser, nem diminuí-lo nem extinguí-lo, mas, brincando, desviá-lo e transformá-lo, e nisso Montaigne acertava.

E se a você este brinquedo, ao final, se mostrar um tanto mentiroso, como algo sem valor ou de muito pouca utilidade, saiba que, ao menos, como todo sincero presente, este lhe quer somente agradar (porque lhe quer ferir a razão) ou servir-lhe de algo, e disso saio com a consciência tranquila. Pois o que lerá nessas linhas, se ainda pretende avançá-las, são instantes de minha mais profunda sinceridade, acrescidas, é claro, de longos anos de conversação, e mais algumas centenas de milhares de debruçes em minha janela. E mais: está muito longe de mim, querer, me divertindo convencer alguém de minhas pobres idéias, enquanto sei que essas somente a mim (e para minha sobrevivência) possam servir para alguma coisa. Mas penso que me caiba, no entanto, o direito de compartilhá-las, visto que a isso se prestou tão bem a escrita por todos estes séculos, sem a qual não teria por tanto tempo sobrevivido.

Nesta introdução, se começo este texto por aqui, como numa brincadeira de criança, a despertar a sua memória para o motivo de tudo isso, é por apenas querer dizê-lo, e sem mais demora, e da maneira que justifique o próprio tema, que o texto quer que entendamos apenas os processos pelos quais se dá o fenômeno do DIÁLOGO, coisa tão importante em nossa época. E o que o torna mais importante: nestes tempos em que ninguém (ou muito poucos) conseguem sequer estabelecê-lo de um modo mais lucrativo, mais proveitoso, com mais método e menos arrogância e vaidade. Pois nada, Leitor, nada me corrói mais o estômago, nada me dói tanto que enxergar em meus amigos, naqueles que elegi para servirem-me de opiniões, estas duas últimas palavras. Arrogância e vaidade. Ainda ontem não ouvi dizer que a obstinação e a convicção exageradas são a prova mais evidente da estupidez? E não são sempre os menos capazes que, ao travarem uma conversa, olham os outros de cima e voltam da luta cheios de orgulho e disposição? E por não perceberem as laranjas que lhe caem do cesto, é que andam por aí a derrubá-las cada vez mais, sem que ouçam os risos? Portanto, se me-é permitido fazê-lo, confiarei em duas autoridades para este feito: em primeiro, em mim, que mesmo brincando possa perceber-me fazendo algo de útil, ao traçar o resultado de minhas descobertas. Na verdade ao traçar o resultado de meu cuidado por você Leitor. Em segundo, em toda a Filosofia, ou que melhor explique, em toda a filosofia por mim lida, que esteve mesmo com a razão por muitos anos e há séculos atrás.

E encerrando, escrever-lhe que ao narrar as minhas experiências hoje tão fúteis, duvidando que as possam aproveitar o discernimento alheio, ou que a opinião dos “entendidos” possa com isso, ao menos, arranhar-se, valho-me do orgulho de que, de algum jeito, ao menos, um sairá lucrando ao fim de tudo isso, que serei eu. Pois sei por experiência própria (por mais que tentemos aconselhar) que a tolice nunca se deu com os conselhos. Que ela, na verdade, é como a água e o óleo. E que se suportou esta introdução até aqui, haja talvez alguma esperança de que não pertença a esta leva dos tolos, (na verdade estou certo de que não) e que a arrogância que às vezes vejo perturbar a fala alheia possa ser apenas um engano de minha parte, um deslize também de meus julgamentos, e que sendo verdade o meu erro, (se estou mesmo enganado) que possamos rir destas linhas (juntos) ao fim deste ensaio, o que me deixaria muito feliz, pois dentre tantas qualidades existentes em você Leitor (e prefiro que as lembre num segundo momento) acabo por querer afirmar que talvez todo este meu trabalho almeje apenas o poder usufruir de tudo isso, acertando o nosso modo de dialogar com os outros, para que o brilho de vossa alma se possa chegar completa até mim, o que não me impeça de dizer que o que faço é dar umas esfregadelas neste globo de modo a promover-lhe a transparência do vidro, para que eu o enxergue de verdade, que o seu brilho sejas meu, e por inteiro, e que serias bem esperto se compreendesse que o que quero, na verdade, é chegar-me tão perto de ti, que de longe pudessem dizer (visto nossa harmonia) que somos apenas uma pessoa, que na verdade é um outro modo de dizê-lo que o amo. E para finalizar, recorrer a um poeta muito distante no tempo, que dizia que fazer o que seja é inútil. E que não fazer nada é inútil. Mas que entre fazer e não fazer, mais vale o inútil do fazer. Mas não, fazer para esquecer que é inútil: nunca o esquecer. Mas fazer o inútil sabendo que é inútil, e bem sabendo que é inútil e que seu sentido não será sequer pressentido, fazer: porque ele é mais difícil do que não fazer. E dificilmente se poderá dizer, Leitor, com mais desdém, ou então dizer mais direto a você, ou a mim mesmo, que o feito o foi: para ninguém.


DA ARTE DE DIALOGAR

Em breve...
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Um comentário:

Morenna Flor Bijux disse...

Bom, a introdução já me disse muita coisa e me lembrou muita coisa também... espero agora o texto em si para dialogarmos um pouco mais então.